A dieta definitiva de Beck na clínica psicoterápica com obesos Descargar este archivo (9. A dieta definitiva de Beck na clínica psicoterápica com obesos.pdf)

Cynthia de Freitas Melo Lins1

Resu­mo

A “Die­ta defi­ni­ti­va de Beck”, cria­da pela Dra Judith Beck, no livro “Pen­se magro: a die­ta defi­ni­ti­va de Beck”, pro­põe o apren­di­za­do de téc­ni­cas cog­ni­ti­vas e com­por­ta­men­tais para die­tas com dura­bi­li­da­de. Obje­ti­vou-se ava­liar a efi­ciên­cia da pro­pos­ta, atra­vés de estu­do de caso lon­gi­tu­di­nal, em pes­qui­sa-clí­ni­ca, com pacien­te em pro­ces­so psi­co­te­ra­pêu­ti­co por 1,5 anos e IMC 47,01 (obe­si­da­de mór­bi­da). Entre os resul­ta­dos, obser­vou-se a apli­ca­bi­li­da­de da die­ta Beck na clí­ni­ca psi­co­te­ra­pêu­ti­ca. Após o tra­balho psi­co­te­ra­pêu­ti­co ten­do como sobre pro­ble­mas pes­soais que atra­palha­ram outros regi­mes da par­ti­ci­pan­te, ini­ciou-se o tra­balho sobre a die­ta, adap­tan­do a pro­pos­ta, de modo que cada muda­nça fos­se mais pau­sa­da, ao invés de diá­ria, fos­se sema­nal. Des­te modo, as 6 sema­nas pro­pos­tas, tor­na­ram-se 42 sema­nas; e sem nenhum apoio de medi­cação, a par­ti­ci­pan­te per­deu 27kg, man­ten­do-se após 1 ano. Con­cluin­do-se a adap­tação da die­ta, sal­vo algu­mas alte­rações para a reali­da­de clí­ni­ca.

Pala­bras-cha­ve: Obe­si­da­de. Beck. Estu­do de caso. 

 

Resu­men

La “solu­ción de la die­ta de Beck”, crea­do por el Dr. Judith Beck, en su libro “Pien­se del­ga­do: la solu­ción de la die­ta de Beck”, pro­po­ne el apren­di­za­je de téc­ni­cas cog­ni­ti­vas y con­duc­tua­les para las die­tas con una mayor dura­bi­li­dad. El tra­ba­jo tuvo como obje­ti­vo eva­luar la efi­ca­cia de la pro­pues­ta a tra­vés del estu­dio de casos lon­gi­tu­di­na­les en la inves­ti­ga­ción clí­ni­ca con el pacien­te en un pro­ce­so psi­co­te­ra­péu­ti­co por 1.5 años y con un IMC 47,01 (obe­si­dad mór­bi­da). Los resul­ta­dos mos­tra­ron la apli­ca­bi­li­dad de la die­ta de Beck en la prác­ti­ca psi­co­te­ra­péu­ti­ca. Des­pués de tra­ba­jar en el pro­ce­so psi­co­te­ra­péu­ti­co con los pro­ble­mas per­so­na­les que difi­cul­ta­ban otros esque­mas de la par­ti­ci­pan­te, se comen­zó a tra­ba­jar en la die­ta, en la adap­ta­ción de la pro­pues­ta, por lo que cada cam­bio era más pau­sa­do, en lugar de cada día, era sema­nal­men­te. Por lo tan­to, las pro­pues­tas de 6 sema­nas se con­vir­tie­ron en 42 sema­nas de y sin apo­yo de la medi­ca­ción, al final del cual la par­ti­ci­pan­te había per­di­do 27 kg, man­te­nién­do­se des­pués de 1 año.

Pala­bras cla­ve: Obe­si­dad. Beck. Estu­dio de caso.

Introdução

Guia­dos por um ideal de magre­za, ou em bus­ca de uma vida sau­dá­vel, todos gos­ta­riam de uma fór­mu­la mági­ca para ema­gre­cer, ou uma die­ta revo­lu­cio­ná­ria, por ser prá­ti­ca, rápi­da e efi­caz.

Esté­ti­ca à par­te, a obe­si­da­de tor­na-se um sério pro­ble­ma de saú­de públi­ca mun­dial (Kus­kows­ka-Wolk & Bergs­trom, 1993). Esti­ma-se, por exem­plo, que no Bra­sil, a obe­si­da­de aco­me­te cer­ca de 40% da popu­lação adul­ta; oca­sio­nan­do mor­te pre­co­ce em 50.000 à 100.000 pes­soas por ano (Ballo­ne, 2005).

Uma doe­nça silen­cio­sa, que pas­sa des­aper­ce­bi­da pela maio­ria da popu­lação (Made­ni, 2011) e que carre­ga este­reó­ti­pos sobre esses sujei­tos, vis­tos como mal edu­ca­dos, pre­guiço­sos e cul­pa­dos por sua con­dição. Refo­rça-se, toda­via, que a obe­si­da­de é hoje con­si­de­ra­da um dis­túr­bio nutri­cio­nal e meta­bó­li­co carac­te­ri­za­do pelo aumen­to da mas­sa adi­po­sa do orga­nis­mo, que se refle­te no aumen­to do peso cor­pó­reo (Cole, 2000).

Ain­da que o ele­va­do peso cor­po­ral seja resul­ta­do do des­equi­lí­brio entre ofer­ta e deman­da ener­gé­ti­ca, a sua deter­mi­nação tem-se reve­la­do com­ple­xa e variá­vel em diver­sos aspec­tos, como fato­res demo­grá­fi­cos, socio­eco­nô­mi­cos, gené­ti­cos, psi­co­ló­gi­cos, ambien­tais e indi­vi­duais. Tam­bém não há como negar que os hábi­tos ali­men­ta­res e a expo­sição aos mais caló­ri­cos pra­tos tem sua gene­ro­sa con­tri­buição (Alves, Sil­va, & Ribei­ro, 2000; Fis­berg, 1993).

Veri­fi­ca-se hoje uma rique­za caló­ri­ca e pobre­za nutri­cio­nal nos car­dá­pios de cada região bra­si­lei­ra, não seguin­do as reco­men­dações pro­pos­tas pela Orga­ni­zação Mun­dial da Saú­de (OMS) e o Guia Ali­men­tar Bra­si­lei­ro (GAB). Obser­va-se, pois, que 95% das pes­soas tor­nam-se obe­sas, de modo nor­mal, sob duas cir­cuns­tân­cias: ou por comer exa­ge­ra­da­men­te, mais do que pre­ci­sa; e/ou por­que gas­ta pou­cas calo­rias. Caben­do a ape­nas 5% dos obe­sos a for­ma pato­ló­gi­ca, que se tor­na obe­so por ter mais faci­li­da­de de pro­du­zir gor­du­ra e que “quei­mam” gor­du­ras com menor faci­li­da­de (IBGE, 2009).

Como con­se­quên­cia des­se car­dá­pio mal estru­tu­ra­do, da má edu­cação ali­men­tar e dita­du­ra da magre­za esté­ti­ca, sur­gem mira­bo­lan­tes recei­tas e dicas de die­tas em gran­de quan­ti­da­de: 28.800.000 pro­pos­tas em bus­ca­do­res da inter­net. A des­ta­car, die­ta da lua, do sor­ve­te, da bana­na, da cla­ra de ovo, do vina­gre, da bíblia, do alfa­be­to (Almei­da, 2010).

No com­ba­te a esses “mila­gres fal­sá­rios”, diver­sos pes­qui­sa­do­res tem se dedi­ca­do a des­en­vol­ver, tes­tar e expan­dir die­tas que sejam de fato, efi­caz e reso­lu­ti­va. Den­tre essas, a des­ta­car, a die­ta pro­pos­ta pela prof(a) Dr(a) Judith Beck no livro “Pen­se Magro – a die­ta defi­ni­ti­va de Beck”. Um pro­gra­ma de trei­na­men­to psi­co­ló­gi­co, que pro­põe muda­nças diá­rias de pen­sa­men­to e com­por­ta­men­to duran­te seis sema­nas, sem nenhu­ma recei­ta ali­men­tar (Beck, 2008).

Um livro dire­cio­na­do para o públi­co em geral, mas que tam­bém pode ser uti­li­za­do por pro­fis­sio­nais de saú­de, que ofe­re­ce uma pro­pos­ta de abor­da­gem para pacien­tes com obe­si­da­de ema­gre­ce­rem de for­ma sau­dá­vel, ade­qua­da e pode­rem man­ter essa per­da de peso – razão pela qual qua­li­fi­ca a abor­da­gem como “defi­ni­ti­va”.

Ao invés de spa e die­tas malu­cas, a auto­ra pro­põe-se algo sim­ples: pen­sar. Pen­sar magro sig­ni­fi­ca, basi­ca­men­te, repro­gra­mar seu cére­bro para que ele pas­se a domi­nar a fome ou a sim­ples gulo­di­ce até o pon­to em que se pos­sa igno­rar uma fatia de tor­ta. Repro­gra­mar o cére­bro não impli­ca tomar cho­ques elé­tri­cos ou ade­rir às téc­ni­cas trans­cen­den­tais. Requer enfren­tar fri­tu­ras, sal­ga­dinhos, doces e refri­ge­ran­tes sem des­cul­pas e auto enga­nações. A resis­tên­cia men­tal defi­ni­ti­va é o que pre­ga a Tera­pia Cog­ni­ti­vo Com­por­ta­men­tal (TCC), hoje con­si­de­ra­da o tra­ta­men­to de pri­mei­ra linha con­tra o exces­so de peso. Como afir­mou Beck em entre­vis­ta à Revis­ta Veja, “Quan­to mais resis­tir­mos aos desejos de comi­da, menos fre­quen­tes eles se tor­na­rão” (Bucha­lla, 2008). E mais que isso, é pre­ci­so com­preen­der que a gran­de ansie­da­de não estar em resis­tir à fatia de piz­za, mas ape­nas até o deci­dir não comê-la (Beck, 2008).

Pen­sar magro deman­da empenho e dis­ci­pli­na. Envol­ve cul­ti­var melhor as emoções e adqui­rir novos com­por­ta­men­tos. A per­da de peso não é da noi­te para o dia. Em situações mais difí­ceis, para pre­ve­nir as recaí­das, seguir o manual não é sufi­cien­te. Tor­na-se neces­sá­rio reco­rrer a nutri­cio­nis­tas e psi­có­lo­gos. Uma pro­pos­ta de die­ta ousa­da, com res­pal­do cien­tí­fi­co na Psi­co­lo­gia Cog­ni­ti­vo-Com­por­ta­men­tal.

Sobre o emba­sa­men­to teó­ri­co da Teo­ria Cog­ni­ti­va-Com­por­ta­men­tal (TCC) baseia-se no pres­su­pos­to racio­nal teó­ri­co de que o afe­to e o com­por­ta­men­to do indi­ví­duo são ampla­men­te deter­mi­na­dos pela manei­ra como ele estru­tu­ra o mun­do. Suas cog­nições (even­tos) estão basea­das em ati­vi­da­des ou supo­sições (esque­mas) des­en­vol­vi­das a par­tir de expe­riên­cias ante­rio­res, nes­se jogo de inter­ações sociais (Beck, 1982).

Expla­nan­do resu­mi­da­men­te a pro­pos­ta do livro de Beck (2008), e as téc­ni­cas que devem ser apren­di­das para que haja suces­so no pro­gra­ma.

Na intro­dução, Beck (2008) apre­sen­ta ao lei­tor a pro­pos­ta de uma jor­na­da em con­jun­to, com o obje­ti­vo de pos­si­bi­li­tar ao indi­ví­duo reconhe­cer seu padrão ali­men­tar, suas dis­to­rções cog­ni­ti­vas rela­cio­na­das à per­da de peso e ao seu cor­po e como o mode­lo de rees­tru­tu­ração da tera­pia cog­ni­ti­va pode­rá aju­dá-lo a ema­gre­cer e se man­ter magro.

O pri­mei­ro seg­men­to, “O poder da tera­pia cog­ni­ti­va”, divi­de-se em qua­tro capí­tu­los: 1) “A cha­ve do suces­so”, onde o lei­tor apren­de a assu­mir que ele pos­sui “pen­sa­men­tos sabo­ta­do­res” (pen­sa­men­tos dis­fun­cio­nais) em sua ali­men­tação e em suas ten­ta­ti­vas de die­tas, abo­lin­do a tra­paça; 2) “O que, na ver­da­de, faz você comer”, onde são abor­da­dos os con­cei­tos e exem­plos do que são pen­sa­men­tos auto­má­ti­cos dis­fun­cio­nais, que nes­te livro são deno­mi­na­dos “pen­sa­men­tos sabo­ta­do­res”, e que o ato de comer não é um com­por­ta­men­to auto­má­ti­co, mas deco­rren­te de estí­mu­los ambien­tais, bio­ló­gi­cos, men­tais, estí­mu­los emo­cio­nais e estí­mu­los sociais; 3) “Como as pes­soas magras pen­sam”, dis­co­rre sobre como pes­soas magras con­se­guem dis­tin­guir entre fome e von­ta­de de comer e como con­se­guem se pro­gra­mar e limi­tar sua ali­men­tação de for­ma orga­ni­za­da e sau­dá­vel; 4) “Como uti­li­zar a die­ta defi­ni­ti­va de Beck”, o pro­gra­ma de 6 sema­nas é des­cri­to de uma for­ma geral. Des­ta­can­do ain­da que, para a uti­li­zação da die­ta defi­ni­ti­va de Beck, não impor­ta se você quer ema­gre­cer 2,5 qui­los ou 45 qui­los, ou ape­nas man­ter seu peso atual. Não impor­ta se você á homem ou mulher, ido­so ou jovem. Ou se está na sua pri­mei­ra ou déci­ma die­ta ou se você tem o hábi­to de começar die­tas e aban­do­na-las. A úni­ca neces­si­da­de ini­cial é que o pacien­te escolha uma die­ta sau­dá­vel, nutri­ti­va (apro­va­da por um nutri­cio­nis­ta) e que não a ini­cie até que este­ja psi­co­lo­gi­ca­men­te pre­pa­ra­do, ape­nas na 3ª sema­na do 2° seg­men­to.

Após esse seg­men­to mais psi­co­edu­ca­ti­vo sobre obe­si­da­de e sobre como o mode­lo cog­ni­ti­vo, no segun­do seg­men­to do livro, “O pro­gra­ma”, a auto­ra apre­sen­ta de for­ma detalha­da o pro­gra­ma de seis sema­nas, expla­nan­do as pro­pos­tas e obje­ti­vos para cada dia das seis sema­nas: 1) Pre­pa­re-se: apren­da os fun­da­men­tos; 2) Orga­ni­ze-se: pre­pa­re-se para fazer a die­ta; 3) Vá em fren­te, come­ce a die­ta; 4) Reaja aos pen­sa­men­tos sabo­ta­do­res; 5) Supere des­afios; e 6) Apri­mo­re novas habi­li­da­des.

Por fim, no ter­cei­ro e últi­mo seg­men­to, “A con­ti­nui­da­de”, é dedi­ca­do a ensi­nar estra­té­gias cog­ni­ti­vas e com­por­ta­men­tais de manu­te­nção, sen­do com­pos­to por dois capí­tu­los: “1. Quan­do parar de ema­gre­cer” e “2. Como man­ter seu novo peso”, que retra­tam a muda­nça defi­ni­ti­va do pacien­te, atra­vés da cons­cien­ti­zação de suas cre­nças dis­fun­cio­nais, do apren­di­za­do de novas habi­li­da­des e da manu­te­nção da die­ta de for­ma defi­ni­ti­va.

Des­te modo, o livro pro­põe uma die­ta, sem mila­gres, que defen­de muda­nças cog­ni­ti­vas e com­por­ta­men­tais que são fun­da­men­tais para a criação de uma die­ta, des­ta vez, defi­ni­ti­va,

Objetivos

O pre­sen­te tra­balho obje­ti­vou ava­liar a apli­ca­bi­li­da­de da die­ta defi­ni­ti­va de Beck na psi­co­te­ra­pia com pacien­tes obe­sos. Para che­gar a esse fim, bus­ca­ram-se os seguin­tes obje­ti­vos espe­cí­fi­cos:

  • Apre­sen­tar uma pro­pos­ta de adap­tação da die­ta de Beck à psi­co­te­ra­pia com obe­sos;
  • Veri­fi­car os resul­ta­dos alca­nça­dos e impres­sões do pacien­te e psi­co­te­ra­peu­ta sobre a die­ta.

Método

Reali­zou-se uma pes­qui­sa de estu­do de caso, onde o pes­qui­sa­dor acom­panhou a par­ti­ci­pan­te de for­ma lon­gi­tu­di­nal con­ti­nua na clí­ni­ca psi­co­te­ra­pêu­ti­ca.

Con­tou-se com a cola­bo­ração de uma par­ti­ci­pan­te, com 24 anos, cató­li­ca, bacha­rel em direi­to, que resi­dia com irmã e avó mater­na; e com obe­si­da­de mór­bi­da (120,350 Kg, com 1,60m e IMC 47,01).

Para rea­li­zação do pre­sen­te estu­do, a par­ti­ci­pan­te foi acom­panha­da em pro­ces­so psi­co­te­ra­pêu­ti­co por 1,5 anos, em 70 ses­sões de 45 minu­tos, divi­di­do em duas par­tes: seis meses de psi­co­te­ra­pia sobre pro­ble­mas pes­soais (24 ses­sões) e um ano em die­ta (46 ses­sões).

Na pri­mei­ra par­te des­se pro­ces­so, foi uti­li­za­do o Inven­tá­rio de Depres­são de Beck (BDI) para ava­liação do humor da par­ti­ci­pan­te. Em segui­da, seus pro­ble­mas pes­soais (não adap­tação à per­da dos pais, depres­são leve, fal­ta de asser­ti­vi­da­de), que gera­vam ansie­da­de e atra­palha­va as die­tas ante­rio­res, foram tra­balha­dos atra­vés da Tera­pia Cog­ni­ti­va Com­por­ta­men­tal (Exer­cí­cio do espelho, para veri­fi­cação da auto­ima­gem da par­ti­ci­pan­te, seus aspec­tos posi­ti­vos, nega­ti­vos e eu ideal a ser tra­balha­do; Regis­tro de pen­sa­men­to, para dete­cção das cre­nças dis­fun­cio­nais e sua racio­na­li­zação; Regis­tro de com­por­ta­men­to, para apren­di­za­do de com­por­ta­men­to asser­ti­vo).

Na segun­da par­te des­se pro­ces­so, foram uti­li­za­das todas as téc­ni­cas pro­pos­tas pela die­ta defi­ni­ti­va de Beck, tan­to no eixo cog­ni­ti­vo (téc­ni­ca das sete per­gun­tas, car­tão de van­ta­gens e des­van­ta­gens), como tam­bém téc­ni­cas com­por­ta­men­tais (pesa­gem, muda­nças no ambien­te, nos momen­tos de refeição). Sen­do incluí­do ain­da o exer­cí­cio de res­pi­ração dia­frag­má­ti­ca, rela­xa­men­to mus­cu­lar de Jacob­son e grá­fi­co de dia­gra­ma de dis­per­são de pesa­gem. Des­ta­ca-se ain­da que duran­te todo esse pro­ces­so, a psi­có­lo­ga pes­qui­sa­do­ra con­tou com os regis­tros de evo­lução da par­ti­ci­pan­te no seu pron­tuá­rio da cli­ni­ca psi­co­te­ra­pêu­ti­ca.

Por fim, uti­li­zou-se, ao final do tra­balho, um rotei­ro de entre­vis­ta aber­to, con­ten­do oito per­gun­tas.

Ao final do pro­ces­so, o pron­tuá­rio das duas fases da psi­co­te­ra­pia da par­ti­ci­pan­te foi ana­li­sa­do cui­da­do­sa­men­te; e para aná­li­se da entre­vis­ta final foi uti­li­za­da a ana­li­se de con­teú­do de Bar­din (1977).

Con­si­de­ran­do-se os aspec­tos éti­cos refe­ren­tes a pes­qui­sas envol­ven­do seres huma­nos. Para a uti­li­zação dos dados da psi­co­te­ra­pia para o estu­do e antes da entre­vis­ta final, a par­ti­ci­pan­te da pes­qui­sa foi infor­ma­da pre­via­men­te a res­pei­to dos obje­ti­vos e pro­ce­di­men­tos da pes­qui­sa, assim como do seu ano­ni­ma­to e da con­fi­den­cia­li­da­de de suas res­pos­tas. Foi soli­ci­ta­do a par­ti­ci­pan­te que les­se o Ter­mo de Con­sen­ti­men­to Livre e Escla­re­ci­do, cujo mode­lo foi ela­bo­ra­do de acor­do com a “Reso­lução no 196/96 Sobre Pes­qui­sa Envol­ven­do Seres Huma­nos” (Bra­sil: Minis­té­rio da Saú­de, Con­selho Nacio­nal de Saú­de, 1996). Este docu­men­to expli­ci­ta­va a soli­ci­tação para par­ti­ci­pação no estu­do, por via escri­ta, infor­man­do ain­da, que este con­sen­ti­men­to garan­tia ao par­ti­ci­pan­te o direi­to de inter­rom­per sua cola­bo­ração na pes­qui­sa a qual­quer momen­to, caso jul­gas­se neces­sá­rio, sem que isso impli­cas­se em cons­tran­gi­men­to ou pre­juí­zo de qual­quer ordem.

Resultados

No iní­cio do pro­ces­so psi­co­te­ra­pêu­ti­co, foi rea­li­za­do o exer­cí­cio do espelho do “eu ideal” com a par­ti­ci­pan­te, para veri­fi­car a auto­ima­gem, com seus aspe­tos posi­ti­vos, nega­ti­vos e eu ideal. Como resul­ta­do des­te exer­cí­cio, obser­vou-se que, den­tre os aspe­tos posi­ti­vos encon­tra­va-se o ser “boa ouvin­te”, pres­ta­ti­va, poder de lide­ra­nça, com­pro­me­ti­men­to com os resul­ta­dos pro­fis­sio­nais, obe­dien­te aos pais. Den­tre os pon­tos nega­ti­vos, des­ta­cou-se o “falar demais”, a preo­cu­pação exces­si­va em não magoar os outros, o “ser gor­da” e “ser cho­ro­na”. Reti­ran­do-se, ao final do tra­balho, o seu “eu ideal”, que con­sis­tia em ser “resol­vi­da emo­cio­nal­men­te”, mais asser­ti­va, “menos gor­da”, menos ansio­sa, agir com menos medo de magoar os outros, saber lidar com per­da dos pais e ter melhor auto­ima­gem.

Após apu­ra­dos os focos a serem tra­balha­dos em psi­co­te­ra­pia, foi apli­ca­do o Inven­tá­rio de Depres­são de Beck (BDI), que obte­ve 12 pon­tos, “depres­são leve”. Assim, após ana­li­sa­do o esta­do de humor da par­ti­ci­pan­te, e suas neces­si­da­des psi­co­te­ra­pêu­ti­cas, pode-se dar ini­cio ao pro­ces­so, que se divi­diu em dois momen­tos: tra­balho sobre pro­ble­mas pes­soais e die­ta.

A pri­mei­ra fase da psi­co­te­ra­pia:

Reconhe­ce-se que a exis­tên­cia de pro­ble­mas e con­fli­tos pes­soais não resol­vi­dos pode­riam inter­fe­rir nega­ti­va­men­te na die­ta, tomou-se como neces­si­da­de mais urgen­te da pacien­te o tra­balho sobre seus pro­ble­mas pes­soais: a per­da dos pais e a relação com seus avós que a cria­ram.

Nes­se momen­to, uti­li­za­ram-se vários exer­cí­cios de pro­jeção de expec­ta­ti­vas e de refle­xão sobre as pos­si­bi­li­da­des, bem como de prós e con­tras, até ini­ciar o uso do regis­tro de pen­sa­men­tos dis­fun­cio­nais. A pacien­te pode apren­der a lidar com a per­da dos pais, subs­ti­tuin­do o sofri­men­to pela sau­da­de; e dei­xou de ver sua infân­cia como “coita­dinha”, e pas­sou a ver como “dife­ren­te”, porém nor­mal.

Em segui­da, atra­vés do regis­tro de com­por­ta­men­to, ques­tio­na­men­to socrá­ti­co e lis­ta de prós e con­tras, tra­balhou-se a não asser­ti­vi­da­de da pacien­te em dife­ren­tes âmbi­tos da sua vida, pois este era um dos fato­res que a dei­xa­va ansio­sa e con­tri­buía para sua inges­tão ali­men­tar.

Foram tra­balha­dos ain­da outros pro­ble­mas de socia­li­zação, de rela­cio­na­men­to com a irmã, de rela­cio­na­men­tos amo­ro­sos, e de cunho pro­fis­sio­nal, até poder-se eli­mi­nar todas as neces­si­da­des de pro­ble­mas que pre­ci­sa­vam ser resol­vi­dos com psi­co­te­ra­pia, que se pro­lon­gou por 6 meses.

A segun­da fase da psi­co­te­ra­pia:

Nes­te momen­to, foi ini­cia­da a psi­co­te­ra­pia para tra­ta­men­to da obe­si­da­de, de acor­do com a die­ta defi­ni­ti­va de Beck (2008). Con­tem­pla-se que, antes mes­mo de ser dado iní­cio à die­ta, ensi­nou-se pacien­te o exer­cí­cio de res­pi­ração dia­frag­má­ti­ca e o rela­xa­men­to mus­cu­lar de Jacob­son, para eli­mi­nação de pos­sí­veis sen­sações de ansie­da­de por pri­vação ali­men­tar.

Em segui­da, deu-se iní­cio aos ensi­na­men­tos de Beck, um por um, seguin­do a sequên­cia do livro, com ape­nas uma modi­fi­cação: cada “dia do livro” foi tra­balha­do uma vez por sema­na, ao invés de dia­ria­men­te, de for­ma que os ensi­na­men­tos para muda­nças não oco­rriam dia­ria­men­te, mas sim sema­nal­men­te, per­mi­tin­do um maior perío­do de intro­jeção das téc­ni­cas e adap­tação à muda­nça de hábi­to.

Na pri­mei­ra fase do livro já foi ini­cia­da a cons­cien­ti­zação e super­ação dos medos quan­to a se pesar, para que tives­se maior con­tro­le sobre sua die­ta, e cons­ciên­cia sobre seus erros e acer­tos da sema­na. E na segun­da fase, de pre­pa­ração para a die­ta, ini­ciou-se a série de téc­ni­cas e ati­vi­da­des pro­pos­tas por Beck (cita­das ante­rior­men­te). Nes­te momen­to, a pacien­te não teve nenhu­ma difi­cul­da­de em mudar os hábi­tos pro­pos­tos por Beck, e adap­tar seu coti­diano, con­se­guin­do per­co­rrer, a pas­sos cur­tos, porém fir­mes, todas as muda­nças: regis­trar as van­ta­gens de ema­gre­cer, escolher die­tas, sen­tar-se para comer, elo­giar-se, ali­men­tar-se deva­gar e cons­cien­te­men­te, escolher um téc­ni­co de die­ta (além da pesquisadora/psicóloga), orga­ni­zar o ambien­te, arru­mar tem­po e ener­gia, escolher plano de exer­cí­cios, esta­be­le­cer metas rea­lis­tas, dife­ren­ciar fome, von­ta­de e desejo incon­tro­lá­vel de comer, pra­ti­car a tole­rân­cia á fome, supe­rar o desejo incon­tro­lá­vel por comi­da, pla­ne­jar o dia de amanha, moni­to­re sua ali­men­tação, evi­te a ali­men­tação não pla­ne­ja­da, aca­bar com os exces­sos ali­men­ta­res, modi­fi­car defi­nição de sacie­da­de, parar de se enga­nar, retor­nar quan­do sair do pla­ne­ja­do, se pesar, dizer “Paciên­cia” para a dece­pção, con­tra­riar a sín­dro­me da injus­tiça, saber lidar com o desâ­ni­mo, iden­ti­fi­car pen­sa­men­tos sabo­ta­do­res, reconhe­cer os erros cog­ni­ti­vos, a téc­ni­ca das sete per­gun­tas, resis­tir a quem insis­te para você comer, man­ter o con­tro­le quan­do esti­ver comen­do fora, deci­dir sobre bebi­das alcoó­li­cas, pre­pa­ra-se para via­jar, eli­mi­nar a ali­men­tação emo­cio­nal, resol­ver os pro­ble­mas, pre­pa­re-se para se pesar, acre­di­te em você, redu­zir o estres­se, apren­der a lidar com o pla­tô, enri­que­cer sua vida, fazer novas lis­ta de tare­fas, pre­pa­rar-se para o futu­ro.

Con­tem­pla-se que nes­te momen­to, pre­pa­ra­tó­rio para a die­ta, a pacien­te dimi­nuiu seu peso de 120 Kg para 111,750 Kg. Ou seja, per­deu 8,250 Kg ape­nas com as muda­nças de hábi­tos do pre­pa­ra­tó­rio da die­ta, sem modi­fi­cações no car­dá­pio da ali­men­tação.

Nes­se perío­do pre­pa­ra­tó­rio, a pacien­te pro­cu­rou ain­da uma nutri­cio­nis­ta, que a aju­dou a ela­bo­rar um car­dá­pio per­so­na­li­za­do, adap­ta­do as suas neces­si­da­des e aos seus gos­tos e este foi facil­men­te segui­do pela a pacien­te, sem recla­mações, ou sérias saí­das do pla­ne­ja­men­to.

No iní­cio da die­ta em si, na ter­cei­ra fase do livro, a pacien­te man­te­ve o rit­mo de muda­nças de hábi­tos, porém, ago­ra com a roti­na sema­nal de se pesar, sem trau­mas. Des­ta­ca-se que esse pro­ce­di­men­to, no iní­cio era difí­cil para a pacien­te, e aumen­ta­va sua ansie­da­de, por sem­pre achar que per­dia pou­co peso, e prin­ci­pal­men­te, por focar-se nos núme­ros gran­des que apa­re­ciam: 117,750 kg, 109,600 kg. Mas aos pou­cos a pacien­te assu­miu a indi­cação de Beck de ver não o peso atual, mas as per­das; por exem­plo, ao invés de 110,100 kg, via menos 1 kg. E assim, o ato de se pesar pas­sou a ser um hábi­to sema­nal, ain­da des­con­for­tá­vel, é ver­da­de, mas menos sofri­do.

Des­ta­ca-se ain­da que este hábi­to de se pesar foi fun­da­men­tal nes­sa ter­cei­ra fase para que a pacien­te saís­se dos exer­cí­cios espon­tâ­neos (esca­da, des­cer para­da ante­rior, ir caminhan­do aos luga­res) para os exer­cí­cios leves (caminha­da na praça). E des­te para exer­cí­cios de maior quei­ma de calo­rias (aca­de­mia 3 vezes por sema­na, e depois todos os dias). Pois, atra­vés da bala­nça, ela pode ver a dife­re­nça de per­da de peso entre esses três tipos de exer­cí­cios, ser­vin­do-lhe como refo­rça­dor.

Des­te modo, atra­vés do apren­di­za­do de todas as téc­ni­cas com­por­ta­men­tais e cog­ni­ti­vas da die­ta defi­ni­ti­va de Beck, res­pei­tan­do o coti­diano nor­mal da pacien­te, sem Spa, ou ilhas de bele­za; e res­pei­tan­do um tem­po maior para a intro­jeção das muda­nças, pode-se acom­panhar uma per­da de peso sig­ni­fi­ca­ti­va da pacien­te, que dimi­nuiu de 120,350 kg para 93,430 Kg (27 kg a menos). Isso sem nenhum tipo de iso­la­men­to, sem pas­sar fome, sem medi­cações, sem cirur­gias. Ape­nas com as téc­ni­cas apren­di­das, que foram apro­pria­das de for­ma vita­lí­cia, e per­mi­ti­rão uma die­ta DEFINITIVA. Como pro­va dis­so, bas­ta salien­tar que após 4 meses de alta do pro­ces­so tera­pêu­ti­co, a pacien­te encon­tra­va-se com 90,025 Kg. Ou seja, além de man­ter a per­da de peso, ain­da con­ti­nua o pro­ces­so de per­da. E seu acom­panha­men­to pas­sou a ser men­sal.

Isso sig­ni­fi­ca que a pacien­te que tinha obe­si­da­de mór­bi­da, com IMC igual a 47,01 (120,350/2.56) pas­sou a ser “ape­nas” obe­sa, com IMC= 35,17 (90,025/2,56). Poden­do-se obser­var Figu­ra 1 a pro­gres­são da sua per­da de peso.

Figura 1 – Acompanhamento do peso semanal da paciente

A entre­vis­ta:

Nes­te momen­to, inves­ti­gou-se com a pacien­te suas impres­sões sobre o pro­ces­so de die­ta, suas expe­riên­cias ante­rio­res, a influên­cia do emo­cio­nal sobre a ali­men­tação e, espe­cial­men­te, sua ava­liação sobre o pro­gra­ma da die­ta defi­ni­ti­va de Beck.

Nes­te momen­to ela relem­brou suas expe­riên­cias nega­ti­vas com die­tas as ante­rio­res:

Ah, era mui­to ruim. Sofri­do. Eu fecha­va a boca, pas­sa­va fome. Até per­dia peso, mas após pas­sar o obje­ti­vo do pelo qual fiz a die­ta (for­ma­tu­ra, casa­men­to na famí­lia), eu sem­pre engor­da­va nova­men­te. E pior, fica­va mais gor­da do que esta­va antes de fazer die­ta.

Ela lem­bra ain­da do modo como seus pro­ble­mas pes­soais agiam sobre sua ali­men­tação e como atra­palha­vam suas ten­ta­ti­vas de die­ta, refo­rçan­do a impor­tân­cia da reso­lução de entra­ves e apren­di­za­do do manu­seio de pro­ble­mas:

Atra­palha­va mui­to. Como apren­di em tera­pia, o papel da comi­da hoje na socie­da­de é mui­to semelhan­te ao álcool. Tipo, o povo bebe para se diver­tir, para come­mo­rar, mas tam­bém para esque­cer, para afo­gar as mágoas. A mes­ma coi­sa para o gor­dinho, socia­bi­li­za-se sain­do para res­tau­ran­tes, lan­cho­ne­tes, e come uma cai­xa de cho­co­la­te ou uma pane­la de bri­ga­dei­ro quan­do está com pro­ble­ma.

Quan­do ques­tio­na­da sobre a vali­da­de dos spas, medi­cação e cirur­gia, a par­ti­ci­pan­te mos­tra que apren­deu os ensi­na­men­tos de Beck. E, além dis­so, enten­deu que suas ten­ta­ti­vas foram frus­tra­das, não por cau­sa dela, mas pela fal­ta de méto­dos ade­qua­dos. Des­co­briu que die­tas mila­gro­sas, como a do ovo, da bana­na, da lua, não pos­suem expli­cação cien­tí­fi­ca e, por­tan­to, não são as melho­res alter­na­ti­vas para ema­gre­cer:

Váli­do, mas não neces­sá­rio. É como apren­di com você e com as pes­qui­sas. Num Spa, eu ia per­der peso, mas ali não é minha vida. Quan­do eu vol­tas­se para casa, eu ia ganhar tudo nova­men­te. Com a medi­cação é a mes­ma coi­sa.

Ela lem­brou ain­da que, se a die­ta de Beck não é mila­gro­sa, nem tudo são flo­res. Ape­sar, e jus­ta­men­te, por ser defi­ni­ti­vo o pro­gra­ma tam­bém apre­sen­ta difi­cul­da­des, que mexem, dife­ren­cia­da­men­te, com a limi­tação de cada um, pois toda muda­nça de hábi­to é difí­cil.

Ah, com cer­te­za [o mais difí­cil foi] me pesar e fazer exer­cí­cio. Nos­sa. Como eu já era bem trau­ma­ti­za­da em me pesar, devi­dos minhas outras die­tas, eu resis­ti mui­to à ideia de me pesar. Fica­va mui­to ansio­sa. Mui­to mes­mo. Mui­to. E sem­pre acha­va que podia ter sido melhor. Mas aos pou­cos isso foi viran­do hábi­to. Já não enro­la­va, nem adia­va a hora de pesar. Ain­da fica­va um mal estar, mas nada demais. Ah, e ir para aca­de­mia. Isso tam­bém foi difí­cil no iní­cio. Adiei mui­to, mas depois pas­sei a ir, e aumen­tei o rit­mo. Até que esta­va indo todos os dias.

Nes­te momen­to, pode-se ain­da obser­var os pon­tos posi­ti­vos e nega­ti­vos que a pacien­te per­ce­beu na die­ta de Beck.

Ah, ela não me iso­la do mun­do para acon­te­cer, eu não pas­sei fome, não pre­ci­sei de recur­sos exter­nos (medi­cação, cirur­gia), e o prin­ci­pal, ela é defi­ni­ti­va.

Demo­ra mais. Mas é nor­mal né?

Não faz mila­gre. É demo­ra­do. Mas tem que ser assim né?

Por fim, a par­ti­ci­pan­te deu sua opi­nião sobre a adap­tação que a psicoterapeuta/pesquisadora fez em relação ao pro­gra­ma ori­gi­nal, alte­ran­do suas téc­ni­cas diá­rias para sema­nais:

Ah, por um lado, seria rápi­do. Beeeem mais rápi­do. Mas olha, não sei se ia fun­cio­nar comi­go. É mui­ta muda­nça, mui­to hábi­to que pre­ci­sa ser apren­di­do, pen­sa­men­to que pre­ci­sa mexer. Acho que comi­go não fun­cio­na­va mudar de vida todo dia não.

Discussão

O his­tó­ri­co da par­ti­ci­pan­te era mar­ca­do por várias ten­ta­ti­vas mági­cas para ema­gre­cer, con­fir­man­do que essas não são as melho­res alter­na­ti­vas para ema­gre­cer (Almei­da, 2010).

Alia­do à escolha de soluções errô­neas, reconhe­ceu-se que a exis­tên­cia de pro­ble­mas e con­fli­tos pes­soais não resol­vi­dos, que inter­fe­rem no esta­do de humor dos pacien­tes obe­sos, tra­zem con­se­quên­cias dire­tas sobre sua ali­men­tação, e mui­to pro­va­vel­men­te, pre­di­zem o fra­cas­so de uma ten­ta­ti­va de die­ta (Beck, 2008). Obser­vou-se, por­tan­to, que o tra­balho sobre seus pro­ble­mas pes­soais da par­ti­ci­pan­te foi deci­si­vo.

Após o tra­balho com a par­ti­ci­pan­te e sua per­da de 27kg, man­ti­da após meses de con­clu­são do pro­ces­so, con­fir­ma-se que para per­der os qui­los a mais para sem­pre; ou dei­xar a obe­si­da­de e pas­sar a ser sau­dá­vel, a Tera­pia Cog­ni­ti­vo-Com­por­ta­men­tal (TCC) e a pro­pos­ta da die­ta defi­ni­ti­va de Beck são exce­len­te opções (Beck, 2008; Bucha­lla, 2008).

Considerações finais

Atra­vés do pre­sen­te estu­do pode-se per­ce­ber como a má ali­men­tação da par­ti­ci­pan­te con­tri­bui para a obe­si­da­de; reali­da­de ineren­te às die­tas das dife­ren­tes regiões da fede­ração, que são caló­ri­cas e mal dis­tri­buí­das nutri­cio­nal­men­te.      Pode-se per­ce­ber tam­bém que o cul­to à magre­za e a bus­ca deses­pe­ra­da de die­tas para per­da de peso, con­du­zi­ram a par­ti­ci­pan­te ao uso des­en­frea­do de medi­cações, die­tas malu­cas e cirur­gias exces­si­vas.

Aos pou­cos, entre­tan­to, a par­ti­ci­pan­te des­co­briu que tudo que vai fácil, vem fácil (exce­to dinhei­ro). A die­ta de per­da de peso radi­cal, ape­sar de dar resul­ta­dos rápi­dos, nor­mal­men­te tem efei­to “iô-iô”, ou seja, ter­mi­na­da a die­ta, pode-se engor­dar tudo o que ema­gre­ceu, senão mais.

Como con­tra­pro­pos­ta, a die­ta de Beck vem sem resul­ta­dos mais rápi­dos. Pelo con­trá­rio, aqui se defen­de que não há mila­gres. O dife­ren­cial des­sa die­ta é jus­ta­men­te o que as die­tas radicais/relâmpagos não ofe­re­cem: a per­da defi­ni­ti­va de peso.     Atra­vés do caso da par­ti­ci­pan­te, pode-se com­pro­var a efi­cá­cia des­se pro­gra­ma, que não ensi­na a “fechar a boca” por uma tem­po­ra­da, ou se poli­ciar por alguns meses. Ele ensi­na téc­ni­cas que pode­rão ser usa­das pelo res­to da vida. Com uma abor­da­gem sim­ples, de fácil com­preen­são e des­ti­na­da ao públi­co em geral, o livro de Beck (2008) mos­trou-se per­fei­ta­men­te adap­tá­vel, e efi­caz, a clí­ni­ca psi­co­te­ra­pêu­ti­ca.

Referências

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Notas

  • 1. Cynthia de Frei­tas Melo Lins. Dou­to­ra em Psi­co­lo­gia. Pro­fes­so­ra da Uni­ver­si­da­de Esta­dual do Cea­rá e do Pro­gra­ma de Pós-Gra­duação da Uni­ver­si­da­de de For­ta­le­za. Av. Sar­gen­to Her­mi­nio 1415, apto 1503‑A, vio­le­ta. Bai­rro Mon­te Cas­te­lo. For­ta­le­za, Cea­rá, Bra­sil. CEP. 60320–105. Ende­reço ele­trô­ni­co: cf.melo@yahoo.com.br